Será que a arte precisa agradar a todos? Para Shannon Penson, moradora de um apartamento no Upper West Side, em Nova York, a resposta é simples: não. A arte, antes de ser consenso, é gosto pessoal. É memória, identidade e visão de mundo. Por isso, ao lado da designer Jessica Gersten, ela transformou seu lar em uma verdadeira galeria contemporânea, sem se preocupar em “combinar com o sofá”, mas em criar um espaço onde cada obra pudesse ocupar o lugar de destaque que merece.

O projeto, desenvolvido ao longo de cinco anos, partiu da ideia de que o apartamento seria um pano de fundo para a coleção. A arquitetura e a decoração foram pensadas para valorizar esculturas, pinturas e móveis assinados por alguns dos nomes mais relevantes da arte e do design internacional contemporâneo. No hall de entrada, por exemplo, o disco dourado, peça de Anish Kapoor ganha protagonismo. Escultor britânico-indiano, Kapoor cria obras monumentais que exploram percepção e vazio, usando superfícies espelhadas e formas geométricas.

A peça do escultor britânico Tony Cragg, conhecido por formas abstratas em metal, madeira e vidro, explora movimento e transformação já na entrada do apartamento. Na parede lateral uma obra do pintor americano Eddie Martinez que mistura expressão gestual e cultura pop, garante as cores vibrantes e cheias de movimento que caracterizam seu trabalho. A cadeira de pelos dos Haas Brothers, dupla de designers americanos, conhecidos por peças irreverentes que transitam entre arte, design e fantasia, completa a cena.

A curadoria de Shannon e Jessica foi criteriosa. Muitas peças foram garimpadas em galerias renomadas, outras vieram sob encomenda. É o caso da monumental mesa de jantar concebida ao longo de dois anos pelo designer belga Emmanuel Jonckers que une técnica artesanal e impacto escultural em mesas e superfícies de pedra e metal. Os sofás também foram feitos sob encomenda por Vincenzo De Cotiis, designer e arquiteto italiano, que cria móveis de edição limitada com materiais preciosos e estética contemporânea.

Além disso, o apartamento abriga esculturas vibrantes de Takashi Murakami, artista do “Superflat”, movimento que combina cultura pop, mangá e tradição japonesa em obras coloridas; instalações de Jean-Michel Othoniel e obras de artistas como Jorge Pardo, Tony Cragg, Jeff Wall e Rick Owens.

Mais do que uma casa, o espaço se tornou uma experiência sensorial. Shannon descreve cada obra como parte de sua história pessoal, carregando significado além da estética. “Trabalhamos juntas para criar um lar que fosse uma verdadeira galeria de arte. Cada escolha foi feita com cuidado, considerando não apenas a beleza da peça, mas também seu significado e seu lugar na minha coleção”, conta.

A arquiteta e designer francesa Emmanuelle Simon assina o bar suspenso Raku Yaki, peça impressionante que é ao mesmo tempo uma obra de arte e um elemento funcional, que pode ser aberto ou fechado, oferecendo uma solução versátil para receber convidados.

O apartamento no Upper West Side exemplifica como a união entre cliente e designer pode resultar em um projeto único. Mas e para quem sonha em trazer esse conceito para a própria casa? Por onde começar? O primeiro passo é definir quais estilos e artistas despertam interesse pessoal, seja visitando galerias, feiras ou acompanhando acervos online. Em seguida, vale contar com o apoio de um designer ou arquiteto com experiência em curadoria de arte, capaz de integrar obras ao projeto arquitetônico sem que elas pareçam meros complementos da decoração. Consultar galeristas e colecionadores também pode abrir portas para peças exclusivas e negociações personalizadas. E, claro, contar com sua própria forma de ver a arte onde viver e contemplar se tornam experiências inseparáveis.

Instagram: @jessicagerstendesign